Quando é que a persistência se torna em obsessão? Quantas vezes se pode racionalmente tentar atingir um objectivo antes de desistir? A mulher desta história viveu na Junqueira entre os séculos XIX e XX. Thereza Ferreira nasceu em 1869, casou vinte anos depois com Joaquim Fernandes do Monte, natural de Rio Mau. As três décadas que se conhecem da sua vida contêm elementos bastantes para alimentar um texto mais longo que aquele que publicamos agora.
Lavradora tal como os pais, Thereza manteve-se em Barros após o casamento. Joaquim tinha 22 anos, era também trabalhador da terra, e viria a falecer nove anos depois, a 15 de Agosto de 1898. Durante este período, o casal teve seis filhos, dos quais dois não sobreviveram. Dos seis, apenas o primeiro foi um rapaz. Chamava-se Manuel e nasceu a 5 de Outubro de 1891. O resto da prole chegaria nos anos seguintes: Emília, em 22 de Fevereiro de 1893; Olívia, a 17 de Janeiro de 1894; Rosa, a 19 de Agosto de 1895.

A bebé seguinte foi baptizada de Deolinda. Nasceu a 24 de Outubro de 1896 mas viveria apenas dez meses. Thereza estava, por esta altura, grávida. Quando o bebé “número seis” nasceu, a 13 de Janeiro de 1898, o casal insistiu em Deolinda. Mas a criança também viria a falecer, seis meses depois. E em Agosto, Joaquim deixava Thereza sozinha no mundo com quatro filhos para criar.
Quase dois anos depois, em Junho de 1900, a viúva Thereza volta a engravidar, pai desconhecido para o Estado Português. Seria esta a Deolinda que por quem tanto ansiava? Infelizmente, se a primeira tinha aguentado dez meses e a segunda seis, a mais recente Deolinda não chegou sequer a completar o primeiro mês.
Quantas vezes se pode racionalmente tentar atingir um objectivo antes de desistir? No caso desta mulher, a resposta é… três. Quando voltou a dar à luz, a 10 de Março de 1902, Anna foi o nome escolhido e, tanto quanto é possível dizer, não consta que Thereza tenha regressado ao cemitério nos meses seguintes.